A cidade tem uma das ofertas socioculturais e gastronômicas mais ricas do país, mas também enfrenta desafios proporcionais à sua magnitude e relevância no cenário nacional
Uma pessoa com mais de 50 anos já foi considerada um problema social para a vida nas grandes cidades. Contudo, atualmente, ela deve ser vista como uma solução para a cadeia produtiva, já que essa população sustenta lares, estuda, trabalha e está ativa. Ou seja, precisamos discutir o novo papel das pessoas longevas na sociedade.
“Essa é a nossa missão. Motivar a conversa sobre a longevidade em grandes cidades como São Paulo, na qual nos últimos 50 anos, a expectativa de vida aumentou em 17,7 anos”, afirma Walter Feldman, Presidente da Longevidade Expo + Fórum.
Nesta edição, a intenção é transcender as fronteiras do evento e atuar em cooperação com a Prefeitura de São Paulo em toda a cidade, para informar, conscientizar, engajar e desenvolver ações de boas práticas, exatamente com o objetivo da cidade fazer jus a sua condição de Capital da Longevidade e da Economia Prateada.
Hoje, em São Paulo, dos mais de 12 milhões de habitantes, 15% têm mais de 60 anos. A expectativa de vida no estado cresceu, encontra-se em 78,9 anos, enquanto em estados como Maranhão e Piauí a expectativa é de 71,4 e 71,6 anos, respectivamente. Esse aumento do tempo de vida das pessoas traz inúmeros desafios, mas também muitas oportunidades para a economia e qualidade de vida da sociedade.
“Se a cidade é inteligente para as pessoas longevas, ela será acolhedora para todos. Esse é o nosso mantra”
Walter Feldman – presidente da Longevidade Expo+Fórum
Desafios
O ponto de partida é desenvolver uma radiografia com números e informações que apresente essa cidade tão contraditória, que possui as maiores oportunidades de trabalho, empreendedorismo, cuidados com a saúde, além de ofertas socioculturais e gastronômicas para esse grupo de consumo, mas, também, enfrenta grandes questões sociais e estruturais.
No período da pandemia, uma pesquisa encomendada pela Maturi, empresa focada na recolocação profissional de pessoas 50+, concluiu que essa parcela da população foi a mais afetada durante a crise sanitária. Foram ouvidas 1.300 pessoas com mais de 50 anos no estado de SP e conclui-se que mais da metade perdeu o emprego entre 2020 e 2021. O idadismo é o principal motivo apontado pelos participantes.
A população de rua da capital é outro tema preocupante. Hoje, mais de 30 mil pessoas vivem em situação de rua. A idade média, segundo Censo realizado pela Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS), é de 41 anos, mas, estima-se que mais de 3 mil pessoas estejam na faixa etária acima dos 60 anos.
Essa condição é fruto da desigualdade, tema latente em São Paulo e no Brasil. Dos quase 2 milhões de longevos que residem na capital, 66% dessa população estão em áreas de vulnerabilidade social, o que afeta diretamente sua qualidade e expectativa de vida.
De acordo com uma pesquisa da Rede Nossa São Paulo, a expectativa de vida varia significativamente de acordo com cada região da cidade. Enquanto no Alto de Pinheiros, zona oeste da cidade, uma pessoa vive em média 80,9 anos, em Guaianases, bairro do extremo leste da capital, ela chega aos 58,3, resultado em 22 anos de diferença. A média de expectativa de vida na cidade é de 68,2 anos.
A desigualdade também se mostra nos números da pandemia da Covid-19. Em 2020, os distritos que concentram maior proporção de óbitos tiveram uma demografia mais jovem. Um exemplo é Iguatemi, na zona leste, que com 48,7% de jovens teve 20,8% de óbitos por covid-19. Essa distribuição vai na contramão dos grupos de maior risco da doença, os mais idosos, e evidencia que o fator território teve peso significativo nessas mortes, o que nos convida a refletir sobre o futuro nessas áreas.
O que tem sido feito?
Temos muito a ser feito, mas a Prefeitura da cidade possui em todas as secretarias, serviços dirigidos para a população 50+ e muitos outros programas serão lançados durante o ano.
No início do ano, a Semana Municipal da Longevidade passou a integrar o calendário oficial de eventos da cidade de São Paulo. A lei nº 17.949/2023 visa fortalecer os projetos e parcerias para atividades e políticas públicas ligadas à vida longeva. A lei foi um pleito da direção da Longevidade Expo+Fórum, que há cinco edições debate as questões do envelhecimento ativo e participativo.
A Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) oferta hoje mais de 130 serviços para população longeva. As ações variam entre convivência e acolhimento, de acordo com as necessidades apresentadas. Um dos destaques é o Centro Dia do Idoso (CDI), um espaço destinado à atenção diurna de pessoas longevas em vulnerabilidade social e com grau de dependência, que necessitam de ajuda de equipe multidisciplinar.
São 88 unidades dos Núcleos de Convivência do Idoso (NCI) que atendem mais de 12 mil pessoas, 1 Centro de Referência da Cidadania do Idoso (Creci@) que soma mais de 400 atendimentos, 16 Centros Dia para Idosos (CDI), 7 Centros de Acolhida Especial para Idosos em situação de rua e 14 Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs).
Para manter a saúde em dia, os longevos dispõem também de academias adaptadas ao ar livre espalhadas por toda São Paulo. A ideia é incentivar a prática de atividades físicas e hábitos saudáveis.
Com ampla rede de hospitais, o renomado Sistema Único de Saúde (SUS) da capital foi eleito pelos paulistanos, pelo terceiro ano consecutivo, como o melhor serviço público da cidade, de acordo com a pesquisa Datafolha, o que reflete diretamente na qualidade de vida e atendimento da população longeva.
Esporadicamente, a Prefeitura realiza também o Contrata SP – 50+, um mutirão de emprego voltado aos trabalhadores com mais de 50 anos, que acontece por meio do Cate – Centro de Apoio ao Trabalho e Empreendedorismo.
A ampla infraestrutura da capital é outro destaque positivo para a longevidade. No que se refere ao transporte público, o município é servido por linhas de metrô, trens e ônibus que integram a cidade à região metropolitana do estado. Acessibilidade na frota, como ônibus de piso rebaixado, garante a autonomia do longevo, bem como as estações de trem e metrô modernizadas.
Uma ampla oferta de teatros, bares e restaurantes caracteriza São Paulo como a capital do entretenimento para todas as idades. Há mais de 100 parques municipais espalhados por toda a cidade e, quando se fala em shoppings centers, a cidade concentra mais de 50.
Consumo, aliás, é um dos destaques das atratividades da capital paulista. São quase 2 milhões de consumidores 60+ que buscam por bens, serviços e lazer e que dispõe de poder aquisitivo para consumir. É a Economia Prateada em sua melhor tradução. Como se sabe, trata-se da terceira maior atividade econômica do mundo, responsável por movimentar mais de US$ 15 trilhões ao ano, número maior do que o PIB da China. No Brasil, de acordo com as estimativas da consultoria Data8, essa economia tem um PIB de mais de 2 trilhões de reais e está em franco crescimento.
(Texto: Aline Porfírio / Imagens: Divulgação)