Por Marcelo Bendhack*
Viver mais e com qualidade é o grande desafio da nossa era. Cada vez mais, a ciência avança para transformar longevidade em sinônimo de bem-estar, saúde e vitalidade. Nesse caminho, dois conceitos ganham força no cenário médico: a epigenética e as terapias com células CAR-T. Juntos, eles podem representar um salto sem precedentes na prevenção e no tratamento de doenças complexas, como o câncer, trazendo novas perspectivas para quem busca viver mais e melhor.
Muitos acreditam que o DNA é como uma “sentença escrita em pedra”. Mas a ciência mostra que não é bem assim. A epigenética é o campo que estuda como fatores externos – como alimentação, atividade física, sono, estresse e ambiente – podem “ligar ou desligar” genes ao longo da vida.
Isso significa que, mesmo que uma pessoa tenha predisposição genética para determinadas doenças, seus hábitos e escolhas de vida podem influenciar se esses genes vão, de fato, se manifestar. Para quem está na faixa dos 60+, a epigenética mostra que cuidar do corpo e da mente é uma forma de proteger o DNA e prolongar os anos de vida com saúde.
A revolução das células CAR-T
Um dos avanços mais empolgantes da medicina é a chamada terapia com células CAR-T (ou CAR-T Cell). Mas o que isso significa na prática?
De forma simples, podemos dizer que o processo acontece quando são retiradas algumas células de defesa do próprio paciente, chamadas linfócitos T. Em laboratório, essas células são “reprogramadas” para reconhecer o câncer e atacá-lo de forma específica. Depois, são devolvidas ao corpo do paciente, agora preparadas para agir como verdadeiros “soldados” contra os tumores.
Essa técnica já mostrou resultados extraordinários em alguns tipos de câncer no sangue, como leucemias. O grande desafio atual é expandir seu uso para tumores sólidos, como o câncer de próstata, de pulmão e de mama.
Onde entra a Epigenética nessa história?
Um estudo recente publicado na revista científica Cancers aponta que a epigenética pode ser a chave para ampliar o alcance da terapia CAR-T. Pesquisadores observaram que, ao analisar padrões de metilação do DNA – pequenas marcas químicas que controlam a atividade dos genes – é possível descobrir novos alvos no câncer.
Esses alvos, chamados antígenos, funcionam como “bandeiras” na superfície das células doentes. Uma vez identificados, podem ser usados para “ensinar” as células CAR-T a atacar de forma precisa o tumor, sem causar tantos efeitos colaterais.
No caso do câncer de próstata, por exemplo, essa abordagem já está sendo testada como uma forma inovadora de diagnóstico e tratamento personalizado, ajudando médicos a prever a evolução da doença e escolher a melhor estratégia terapêutica para cada paciente.
Esses avanços mostram que o futuro da medicina está cada vez mais personalizado. Em vez de tratamentos iguais para todos, será possível considerar as características genéticas e epigenéticas de cada pessoa, oferecendo terapias sob medida.
Assim, a correlação entre epigenética e longevidade passa (também!) por alterar o estilo de vida, mantendo hábitos saudáveis, como ter uma boa alimentação, praticar atividade física regular, evitar ao máximo o estresse, se consumir bebida alcóolica, que seja de forma moderada e não – isso é importante! – fazer uso de qualquer tabaco, cigarro ou vape (cigarro eletrônico).
A longevidade não depende apenas da genética herdada dos pais, mas também das escolhas diárias que fazemos. A ciência agora mostra que, além de prevenir, é possível usar o conhecimento da epigenética e a força da imunoterapia para criar tratamentos inovadores contra o câncer. Para quem está na jornada dos 60+, isso significa não apenas viver mais tempo, mas viver com mais saúde, autonomia e qualidade de vida.
*Marcelo Bendhack é urologista e uro-oncologista. Especialista pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e Presidente da Associação Brasileira de Uro-Oncologia (UROLA Brasil). Cofundador e CEO da Epiprocare GmbH (Alemanha).