Faleceu no último domingo, 9 de novembro de 2025, aos 99 anos, o médico e pesquisador Yukio Moriguchi, considerado um dos precursores da geriatria e dos estudos sobre longevidade no Brasil e na América Latina.
Sua trajetória atravessou continentes, instituições e gerações, unindo ciência, humanismo e uma visão ampla sobre o envelhecimento saudável. Mais do que um médico notável, Moriguchi foi um pensador da longevidade e um defensor da dignidade da pessoa idosa, cuja visão inspirou e ainda inspira iniciativas como o Fórum São Paulo da Longevidade.
Nascido em Tóquio, em 1926, formou-se em Medicina pela Universidade de Keio, no Japão, em 1948, e concluiu doutorado na Universidade de Milão, na Itália, em 1957. Durante a década de 1960, atuou como conselheiro médico do Papa Paulo VI, e em 1971 mudou-se para o Brasil, fixando residência em Porto Alegre. Revalidou o diploma na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e, poucos anos depois, iniciou uma das jornadas mais marcantes da medicina brasileira: a fundação do Instituto de Geriatria e Gerontologia (IGG) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em 1973 — a primeira disciplina formal de geriatria em uma escola de medicina na América Latina.
Professor até 2015, quando se aposentou aos 89 anos, Moriguchi dirigiu o IGG por mais de três décadas, formando gerações de médicos, pesquisadores e profissionais de saúde que disseminaram sua visão de envelhecimento ativo. Foi agraciado com diversas homenagens ao longo da carreira, entre elas a Comenda de Serviço Médico Humanitário, concedida pelo imperador do Japão, reconhecimento à sua contribuição para o avanço da medicina e à promoção da vida longa com qualidade.
Mais do que um cientista, Moriguchi foi um visionário. Em uma época em que o envelhecimento populacional ainda não era pauta de governos ou empresas, ele já defendia o conceito de healthspan — a ampliação da vida saudável — e a necessidade de políticas públicas integradas que unissem saúde, educação, ambiente e bem-estar. Acreditava que o cuidado com a pessoa idosa exigia uma abordagem multidisciplinar e humanizada, conectando ciência, empatia e propósito. Sua obra e seus ensinamentos anteciparam temas que hoje compõem o coração da agenda da longevidade no Brasil e no mundo.

