5 de Novembro de 2019 às 10:22
Os estudos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) apontam que a população com mais de 50 anos no Brasil crescerá a um ritmo chinês nas próximas décadas, criando um imenso mercado consumidor, que já movimenta R$ 1,8 trilhão por ano e responde por 42% do consumo nacional. A participação de pessoas com mais de 50 anos na sociedade passará dos atuais 25% — com 54 milhões de cidadãos — para 31,1% daqui a dez anos, e 37,4% em 2040.
Se hoje o contingente que compõe a chamada “silver economy” ou “grey power” (a força dos grisalhos) já é, comparativamente, maior do que a população da Espanha, o aumento criará novas oportunidades de negócios para as empresas. O economista Marcos Cavalcanti, da Fundação Getulio Vargas (FGV), diz que o fim do bônus demográfico (quando há mais pessoas na ativa do que aposentadas) não representa um ônus demográfico. “Significa que pessoas com mais experiência, patrimônio e capacidade de investimento serão mais representativas dentro da sociedade”, afirma.
Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, empresa que tem realizado pesquisas específicas para esse segmento, ressalta que o grupo dos 50+ já é o maior mercado consumidor do Brasil e não vai parar de crescer. Se fosse um país, esses consumidores seriam a terceira maior economia da América Latina, atrás apenas do próprio Brasil e do México. “É natural que as empresas do ramo da saúde enxerguem primeiramente as oportunidades porque se trata de demanda até então não atendida. Mas a tendência é de que o rol de empresas e segmentos se diversifique para atender à terceira idade”, afirma Meirelles.
Para as empresas explorarem esse nicho será necessária, segundo ele, uma mudança drástica na cultura corporativa. “Nos últimos 20 anos sofremos com a ditadura dos millenials. Todas as empresas queriam desenvolver coisas para jovens. As expressões ‘velho’ e ‘idoso’ ficaram associadas a coisas antigas e defasadas. Isso terá de ser revisto”, diz Meirelles. Essa mudança de cultura deve ocorrer logo por razões que o próprio mercado explica. Ele compara a situação atual com a época em que a Classe C emergiu. Não havia nas companhias departamentos de marketing oriundos dessa classe emergente, o que dificultava a criação de estratégias. “Tão logo aquele mercado foi compreendido, passou a ser explorado adequadamente. Se o mercado conseguiu se adequar à Classe C, também o fará com o público 50+. Ninguém rasga dinheiro. Haverá pressão por metas, vendas e resultados. Com isso, as mudanças virão.”
O segmento é um campo fértil a ser explorado. Das 2,6 milhões de empresas criadas no País no ano de 2018, 34,2% tiveram por trás pessoas acima dos 50 anos, de acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Mais do que isso, esse grupo representa cerca de 50% da renda bruta familiar e encontra poucos produtos e serviços desenvolvidos para seu perfil.
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