Márcia Costa*
Toda vez que escuto: “você é muito experiente e isso é importante”, mil pensamentos vêm à minha cabeça, do tipo: Será que esse papo de experiência realmente é verdade, ou será que só falam isso da boca para fora?
Dilemas como esse se colocam quando você tem mais de 50 anos e quer ressignificar a sua vida pessoal e profissional. O primeiro desafio é por onde começar. Um formato pode ser querendo parecer jovem? Isso não seria genuíno ou respeitoso com os anos vividos.
Outro formato pode ser a inquietude de querer contribuir, de querer trabalhar, de ser produtiva, de se inspirar e inspirar os outros. E esse é um formato que demanda vontade de aprender e de se manter atualizado. Fiz a minha opção por aqui.
Um dia recebi uma mensagem no WhatsApp do CEO de uma startup, que já conhecia, pedindo um horário para conversarmos. Sempre tive admiração pelo trabalho desta startup, assim, mais que depressa, busquei alternativas em minha agenda carregada de possibilidades, e disponibilizei os horários.
Dias depois, viemos a ter a nossa conversa pelo Zoom. Esse CEO é uma pessoa bem mais jovem e tem uma empresa que está crescendo com uma equipe tão jovem quanto ele. A conversa foi amistosa, como já era de se esperar, e, de repente, ele falou que gostaria de me convidar para ser conselheira da sua startup. Que coisa boa, fiquei muito feliz! Era a minha experiência se tornando algo atrativo para uma empresa jovem, que estava iniciando a sua jornada. Para me sentir apta a aceitar o convite e não ficar com nenhuma dúvida, logo perguntei: Por que uma pessoa como eu poderia contribuir para essa startup? Eu já tinha avançado no 50+ anos, com uma carreira consolidada em empresas, por mais de 35 e anos atuando como executiva em Recursos Humanos nos últimos 20 anos. Tudo isso, me sugeria, que meu tempo já tinha passado, e que eu não serviria para atuar em uma empresa tão jovem.
Então, para minha surpresa, veio a resposta: “Preciso de pessoas que tenham senioridade para nos ajudar no equilíbrio e sensatez das discussões, para chegarmos às melhores decisões. Preciso de alguém com
a sua bagagem, que possa dar estabilidade a um time tão jovem. O seu conhecimento irá agregar em nossas discussões.”
Fiquei lisonjeada, e comecei a fazer as pazes com a minha experiência. Percebi que a minha trajetória, tão consolidada, pode continuar – de fato – sendo relevante, mesmo em um ambiente jovem. Entendi o óbvio: que ter uma longa experiência não significa estar velha, ultrapassada. Significa ter um repertório rico e aprofundado em assuntos que nunca deixarão de ser importantes.
Neste período que estamos juntos, tive a oportunidade de contribuir de diversas formas, na visão de cliente, no desenvolvimento do produto, na comunicação, e em trazer reflexões sobre o propósito. E, mais do que isso tudo, aprendi com eles todos os dias. Parece jargão, mas é verdade. Há troca produtiva entre diferentes gerações que trabalham juntas.
Se tem algo que eu posso compartilhar sobre essa oportunidade, é que, para que este aprendizado seja possível, você não pode permitir que sua experiência lhe dificulte a escuta, ou lhe impeça de ser empática. Principalmente em um negócio que tem tanta agilidade e força, mas que está iniciando atividade e se estruturando.
É fundamental considerar que, em alguns momentos, por mais que você já esteja acostumada em colecionar saberes, admita que é necessário ser vulnerável e aprender. Isto significa, de forma empática, abrir mão de estar sempre certa no aqui e agora, para poder fazer da sua história um caminho de futuro.
* Consultora de RH e Embaixadora da Liga Labora pela inclusão da diversidade geracional