Falta de acesso à tecnologia acaba excluindo pessoas 60+ de serviços públicos e de interações sociais
A cada dia o mundo fica mais digital. São smartphones, tablets, plataformas com leitura de íris ou digital, aplicativos de mensagem, entre diversas outras ferramentas. A comunicação e os serviços também migraram rapidamente para o on-line, favorecendo a otimização do tempo e do atendimento. Porém, existe uma geração que ainda não está totalmente familiarizada com a tecnologia e que precisa de atenção e incentivo para ingressar nesse novo mundo.
Os longevos acompanharam muitas transformações durante a vida. Essa é, talvez, a geração que mais foi impactada pela evolução e transformações tecnológicas e científicas. Por exemplo, uma pessoa 60+ teve contato com o telefone público de fichas, o famoso orelhão. Depois o mesmo passou a aceitar cartão telefônico. Também existiu a possibilidade de ter telefone fixo em casa, com fio. Logo chegou o aparelho sem fio, mas ainda conectado à uma linha fixa. No final dos anos 1980 surgiu o pager e, então, teve início a era dos celulares, que começou com um modelo grande apenas para fazer e receber ligações e terminou no formato atual, um smartphone pelo qual todo tipo de comunicação é possível.
É evidente que não é fácil acompanhar todas essas mudanças, por isso, a geração sênior precisa de paciência e atenção para ingressar no universo digital.
“Hoje quem está fora da realidade virtual têm menos acesso à serviços públicos e conhecimento de seus direitos”, enfatiza o médico geriatria, Venceslau Coelho, que também é colaborador do serviço de geriatria do Hospital das Clínicas e diretor médico da Lon VI – Tecnologia em Saúde.
Para Venceslau, a digitalização vem ocorrendo sem o adequado envolvimento dos indivíduos mais vulneráveis, como é o caso dos longevos. “O motivo para essa exclusão são muitos, com destaque para a falta de habilidade, interesse e acesso. A desigualdade de acesso à internet no Brasil ainda é uma grande barreira a ser vencida”.
A tecnologia tem outro papel importante para o público sênior, a socialização. Durante a pandemia pudemos entender como as plataformas digitais possibilitam a interação social mesmo à distância.
“Além do acesso à serviços, a tecnologia tem um papel importante na vida dos 60+: é um instrumento de comunicação, informação, relacionamentos, entretenimento e favorece a cognição. É de extrema importância que essa geração esteja apta a integrar esse mundo virtual, pois, isso vai favorecer sua saúde, suas relações e o bem-estar” – Venceslau Coelho, médico geriatria
Venceslau lembra que, para que essa integração seja possível, é indispensável que haja paciência entre quem vai ensinar e quem vai aprender. Ele enfatiza que é importante explicar ao longevo o quanto aquela ferramenta é útil e estimular o uso nas rotinas do dia a dia. Além disso, é imprescindível redobrar a atenção com golpes nas redes, como empréstimos financeiros.
Este e outros temas relativos à vivência longeva serão debatidos em setembro na quarta edição do Longevidade Expo+Fórum, um espaço dedicado às questões do envelhecimento saudável e ativo. O evento será de 29 de setembro a 1º de outubro no Centro de Convenções Rebouças.