O II Congresso Internacional Envelhecer com Futuro, resultado da parceria entre o Itaú Viver Mais e o Portal do Envelhecimento, acontecerá durante o Fórum São Paulo da Longevidade.
Beltrina Côrte, jornalista e pesquisadora dedicada ao tema do envelhecimento e da longevidade desde 2000, CEO do Portal do Envelhecimento, Portal Edições e Espaço Longeviver, além de integrante da Red Interdisciplinaria Latinoamericana de Psicogerontología (Redip), conversou com o portal e adiantou como será o evento.
Fórum São Paulo da Longevidade: O II Congresso Internacional Envelhecer com Futuro será realizado durante o Fórum São Paulo da Longevidade. Como essa inserção fortalece o impacto do Congresso e amplia a abordagem interdisciplinar sobre envelhecimento, levando a academia, o mercado, o poder público e a sociedade para um diálogo mais integrado?
Beltrina Côrte: Desde a primeira edição do Edital Acadêmico Envelhecer com Futuro, perseguimos a divulgação dos conhecimentos produzidos. Primeiro fizemos uma live, pois estávamos vivenciando a pandemia; depois realizamos um seminário em um auditório da PUC-SP, até que demos um passo mais largo e fizemos o I Congresso dentro da Longevidade Expo + Fórum, no ano passado.
Agora, em 2025, com o II Congresso Internacional Envelhecer com Futuro, acreditamos que continuamos ampliando a disseminação dos saberes produzidos sobre as velhices plurais em uma perspectiva interdisciplinar do envelhecimento brasileiro, colocando em diálogo a academia (nacional e internacional), o mercado, o governo e a sociedade em geral. Com certeza, o II Congresso ultrapassa as fronteiras da academia e impacta o Fórum São Paulo da Longevidade ao trazer credibilidade científica para um evento dessa magnitude e, ao mesmo tempo, sair dos muros acadêmicos e dialogar diretamente com a sociedade. Ao promover essa integração, o Congresso subsidia formuladores de políticas, pesquisadores e a sociedade civil com conhecimento e inspiração para desenhar um futuro em que envelhecer seja, de fato, uma experiência plural e digna.
Fórum São Paulo da Longevidade: Este ano o evento abre para linhas temáticas de envelhecimento: diversidade, intergeracionalidade, sustentabilidade e segurança financeira. Como essa estrutura contribui para aprofundar o conhecimento sobre as múltiplas dimensões do envelhecer contemporâneo?
Beltrina Côrte: Desde o ano passado abrimos espaço para apresentação de trabalhos na modalidade de pôsteres digitais, a pedido de muitos estudantes, profissionais e pesquisadores, já que inicialmente os dois primeiros eventos foram dedicados apenas à apresentação dos resultados das pesquisas selecionadas pelo Edital Acadêmico, apoiadas pelo Itaú Viver Mais e supervisionadas pelo Portal do Envelhecimento
Em 2024, abrimos pela primeira vez a participação da comunidade acadêmica, sociedade e mercado, e foi um sucesso. Os pôsteres digitais foram apresentados no estande do próprio Itaú Viver Mais durante a Longevidade 2024. Recebemos trabalhos belíssimos. Com os pôsteres aprovados, elaboramos os Anais do Congresso, publicados na Revista Kairós (edição 27, n. 2, 2024).
Para este ano, a apresentação dos pôsteres está integrada às demais apresentações dos pesquisadores nacionais e convidados internacionais. Essa modalidade permite que estudantes, pesquisadores e profissionais de diferentes regiões do país e instituições mostrem o que estão pesquisando, fazendo e aplicando. É de uma riqueza ímpar.
Fórum São Paulo da Longevidade: A 4ª edição do Edital Acadêmico selecionou 10 projetos com apoio financeiro e supervisão para apresentação no Congresso em 27 e 28 de outubro de 2025. Que tipo de contribuições e diálogos vocês esperam gerar dentro do evento com esses trabalhos?
Beltrina Côrte: As investigações que serão debatidas no Congresso destacam a complexidade e a multiplicidade do processo de envelhecer, desafiando a visão de um fenômeno único e revelando como ele é atravessado por questões de gênero, sexualidade, saúde, território e acesso a direitos.
Permita-me detalhar cada uma das contribuições que enriquecem nossos debates:
Espectros do envelhecimento: políticas públicas para a nova velhice autista: Adriana Cardoso, Alessandro Freitas e João Brito abordam a invisibilidade histórica do envelhecimento de pessoas autistas. A pesquisa destaca os desafios diagnósticos, a exclusão social, a falta de suporte e a sobrecarga familiar, além das carências no atendimento em saúde e no mercado de trabalho, defendendo a urgência de políticas públicas inclusivas e continuadas, inspiradas no modelo social da deficiência e em experiências internacionais, para garantir qualidade de vida a essa geração muitas vezes esquecida.ista dos 10 projetos mantida integralmente, sem erros)
Suprema velhice: a aplicação do Estatuto da Pessoa Idosa pela Corte Constitucional: A pesquisa de Mariana Moron Saes Braga investiga o papel crucial do Supremo Tribunal Federal (STF) na moldagem dos direitos das pessoas idosas no Brasil. Ela explora como o STF tem sido fundamental para definir precedentes nacionais sobre direitos previstos no Estatuto da Pessoa Idosa. O trabalho detalha o impacto de decisões como a que flexibilizou o acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), mostrando como o STF equilibra princípios constitucionais e questões orçamentárias, influenciando diretamente as políticas públicas e a proteção aos idosos.
Políticas públicas de letramento digital para pessoas idosas: avanços e desafios para materialização do direito fundamental à inclusão digital: Symone Maria Machado Bonfim e Maria Vitória Neto trazem à tona a urgência da inclusão digital para a população idosa no Brasil. Em um mundo cada vez mais digitalizado, o letramento digital é apresentado como um direito essencial para o exercício pleno da cidadania, garantindo participação segura, crítica e autônoma no ambiente virtual. O estudo expõe como a falta de habilidades e acesso à tecnologia reforça desigualdades, limitando o usufruto de direitos e ampliando vulnerabilidades, e enfatiza a necessidade de políticas públicas que reduzam essas barreiras sociais.
Envelhecimento na emergência climática – mídias, formatos e linguagens para comunicar riscos de desastres à população idosa: Nilthon Fernandes de Oliveira Junior aborda a vulnerabilidade desproporcional da população idosa diante dos impactos das mudanças climáticas. Eventos extremos como enchentes e ondas de calor afetam mais intensamente os idosos devido a fatores como mobilidade reduzida e isolamento. Contudo, a pesquisa também reconhece o potencial das pessoas idosas como protagonistas da resiliência comunitária, destacando a necessidade de campanhas de comunicação de riscos mais acessíveis, inclusivas e humanizadas por parte das defesas civis do país.
Cidades Inteligentes e Envelhecimento Ativo: Uma Revisão Sistemática de Soluções e Práticas de inovação para um framework Aplicável: Antônio Cardoso de Brito Junior e Fabio Victorino da Cruz apresentam uma revisão sistemática sobre soluções em cidades inteligentes voltadas para o envelhecimento ativo. Ressaltam os desafios impostos pelo envelhecimento populacional ao desenho urbano e às políticas públicas, e analisam como as cidades inteligentes, ao integrar tecnologias digitais e participação social, podem ser uma alternativa. A pesquisa identifica lacunas na formulação de estratégias integradas e propõe a criação de frameworks que equilibrem inovação tecnológica e preservação social e cultural para construir cidades que de fato promovam o bem-estar das pessoas idosas.
O que é envelhecer sendo lésbica? Intersecções entre envelhecimento e lesbianidade: Sarah Ryanne Sukerman Sanches explora o envelhecimento de mulheres lésbicas, uma experiência marcada pela invisibilidade e pela intersecção de idadismo e lesbofobia. O trabalho revela as violências simbólicas e sociais enfrentadas por essas mulheres, a repressão de suas vidas afetivas e sexuais ao longo da história, e a desvalorização do corpo envelhecido. Apesar dos desafios, a pesquisa destaca a resistência, a valorização da vida e a luta por visibilidade e direitos, desafiando normas heterossexuais e mostrando a esperança das novas gerações em ter mais espaço de reconhecimento.
Percepções de homens cisgêneros gays sobre o processo de envelhecimento: Willy Nunes Ribeiro e Flávio Adriano Borges analisam o envelhecimento de homens cisgêneros gays sob uma perspectiva biopsicossocial, cultural e histórica. O estudo aponta como a masculinidade tradicional e a pressão estética por juventude e performance corporal acentuam inseguranças, enquanto estigmas como heterocisnormatividade, LGBT+fobia e idadismo agravam a exclusão social. A pesquisa evidencia maiores riscos de isolamento, barreiras no acesso à saúde e vulnerabilidades psicológicas, sublinhando a necessidade urgente de políticas públicas e cuidados inclusivos.
Envelhecimento, cuidado e comunidade: o projeto Favela Compassiva: Lucas Faial Soneghet aborda a inovadora proposta das comunidades compassivas, que valoriza a corresponsabilidade coletiva no fim da vida. Diferente do modelo hospitalar, essa abordagem propõe redes comunitárias, familiares e sociais de apoio, exemplificadas pela experiência da Favela Compassiva no Rio. A pesquisa destaca o potencial desse modelo para reduzir desigualdades no acesso a cuidados, fortalecendo laços sociais e solidariedade, e discute os obstáculos e oportunidades para sua expansão no Brasil.
Harmonia entre gerações: A musicoterapia como instrumento de transformação social: Mauro Pereira Amoroso Anastacio Junior apresenta um projeto de musicoterapia intergeracional que utiliza a música para aproximar jovens e idosos. A iniciativa promove trocas de saberes, afetos e experiências de vida, atuando como uma ferramenta poderosa para combater o idadismo, reduzir estereótipos e fortalecer vínculos comunitários e familiares. A pesquisa destaca a contribuição da musicoterapia para a saúde emocional das pessoas idosas e sua relevância formativa para estudantes da área da saúde.
Diversidade da velhice e seu cuidado no sistema único de assistência social de São Gotardo/MG: reflexões sobre o idadismo e suas manifestações: Daniele Magnavita de Alencar, Simone Martins e Andréia Queiroz Ribeiro analisam o cuidado à pessoa idosa no contexto da recente Política Nacional de Cuidados (2024). A pesquisa explora o papel central do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) na efetivação dos direitos ao cuidado, identificando lacunas entre o previsto em lei e a realidade de serviços fragmentados e insuficientes. Ao analisar as cinco dimensões do cuidado, o trabalho propõe uma maior integração intersetorial e territorial nas políticas públicas para assegurar dignidade, equidade e sustentabilidade no envelhecimento.
Cada uma dessas pesquisas oferece uma lente para compreender e agir sobre o envelhecimento no país. Juntas, constroem um panorama abrangente que nos permite dialogar e avançar na construção de um futuro no qual envelhecer seja, de fato, sinônimo de oportunidade e dignidade.
Fórum São Paulo da Longevidade: Um dos objetivos centrais é aproximar diferentes setores e públicos para construir “uma sociedade para todas as pessoas e livre das desigualdades”. Como o Congresso pretende transformar o conhecimento acadêmico em ações concretas e políticas públicas?
Beltrina Côrte: O II Congresso Internacional Envelhecer com Futuro não se propõe a ser apenas um fórum de debates acadêmicos, mas sim um catalisador para a transformação do conhecimento em ações concretas que subsidiem políticas públicas.
A riqueza das pesquisas oferece um alicerce para informar e inspirar legisladores, gestores públicos e a sociedade civil na criação de um ambiente mais inclusivo para a população idosa, e o Congresso pode traduzir esse vasto conhecimento em políticas públicas eficazes ao disseminar de forma clara as evidências científicas, superar a lacuna entre academia e gestão pública, identificar lacunas e melhores práticas que sirvam de ponto de partida para legislações e programas, destacar experiências exitosas como as comunidades compassivas e a musicoterapia intergeracional, subsidiar diretrizes para planos urbanos que contemplem mobilidade, acessibilidade e tecnologia voltadas às pessoas idosas, dar visibilidade a experiências reais de grupos minorizados, humanizando estatísticas e fortalecendo o advocacy, além de incentivar a colaboração intersetorial e intergovernamental e promover o monitoramento e a avaliação de políticas existentes com base em ferramentas e métricas derivadas das pesquisas apresentadas.
Em suma, o Congresso se posiciona como um elo vital entre a produção de conhecimento e sua aplicação prática.
Fórum São Paulo da Longevidade: O Itaú Viver Mais e o Portal do Envelhecimento e Longeviver são articuladores e realizadores do Congresso. Como essa cooperação fortalece o compromisso com a construção de uma cultura da longevidade e quais ganhos a sociedade já percebe a partir dessa parceria contínua?
Beltrina Côrte: A parceria entre o Itaú Viver Mais e o Portal do Envelhecimento na promoção do II Congresso é um exemplo de como a cooperação entre diferentes setores pode contribuir para a construção de uma cultura da longevidade. Essa união não apenas fortalece o compromisso com a temática, mas também amplia significativamente os ganhos percebidos pela sociedade.
De um lado, o Itaú Viver Mais traz capacidade de investimento, rede institucional e alcance junto à sociedade, com visão estratégica de sustentabilidade e responsabilidade social. De outro, o Portal do Envelhecimento contribui com conhecimento acadêmico, rigor científico e conexão com a comunidade gerontológica. Essa combinação une relevância social e profundidade de conteúdo, garantindo que as discussões sejam bem fundamentadas e tenham maior potencial de impacto.
A chancela de uma instituição financeira de peso confere legitimidade e visibilidade ao tema, enquanto o Portal agrega a credibilidade científica. Juntos, atraem mídia, formuladores de políticas e a sociedade em geral de uma forma que dificilmente conseguiriam isoladamente. Além disso, a continuidade dessa parceria demonstra compromisso de longo prazo, essencial para mudar paradigmas e consolidar uma cultura da longevidade.
Fórum São Paulo da Longevidade: Ao dedicar tempo e esforços organizacionais e acadêmicos ao tema do envelhecimento, de que forma essa vivência influenciou a sua própria percepção sobre envelhecer? Que aprendizados ou mudanças pessoais emergiram dessa trajetória ao preparar e realizar um evento como este?
Beltrina Côrte: A preparação para o II Congresso e a dedicação a esses estudos estão contribuindo de forma profunda para a visão que temos do próprio ato de envelhecer. O principal ganho é a desmistificação da velhice como uma fase homogênea, marcada apenas por perdas. As pesquisas mostram a diversidade de experiências, confrontando o idadismo e reforçando que envelhecer é um período ativo, plural e cheio de oportunidades.
Outro aprendizado é reconhecer a capacidade de protagonismo das pessoas idosas. Elas não são apenas receptoras de cuidado, mas portadoras de saberes, experiências e solidariedade, que devem ser valorizados.
Também aprendemos que envelhecer está diretamente ligado à justiça social e à garantia de direitos. A exclusão digital, social ou simbólica é uma violação de direitos fundamentais, e envelhecer com dignidade precisa ser assegurado como direito coletivo.
Essa trajetória reforça que o cuidado deve ser visto como valor social e responsabilidade compartilhada, não como fardo individual. Em suma, o Congresso e os estudos que o sustentam pavimentam uma visão de um envelhecer com futuro – mais rico, justo e sustentável – que deve ser celebrado como parte da vida em todas as suas dimensões.
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