Especialista explica como as pessoas normalizaram citações e referências negativas às pessoas maduras
O símbolo prioritário para os assentos reservados já revela por si só uma sociedade marcada por estereótipos. O boneco esguio, curvo e de bengala indica que aquele lugar é de uso preferencial para pessoas 60+. Assim como em qualquer outra fase da vida, é evidente que nem todos os longevos possuem tais características, pelo contrário, com o passar o do tempo essa população tem buscado cada vez mais espaço e qualidade de vida, porém, o idadismo e o pensamento retrógrado da sociedade são os principais obstáculos encontrados nessa jornada.
O idadismo é um tipo de preconceito que se perpetuou em nossa sociedade e acabou absorvido pelas pessoas. Uma pesquisa da Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2016 entrevistou 83 mil idosos em 67 países. O resultado mostrou que 60% deles não se sentiam valorizados. Outro estudo, feito pela Universidade de Michigan em 2020, revela que 80% dos entrevistados disseram ter sido vítimas de preconceito por idadismo uma ou mais vezes ao longo do dia.
De acordo com o coordenador da Universidade Aberta à Terceira Idade da USP e do programa USP Rumo ao Envelhecimento Ativo, Egidio Dorea, os estereótipos negativos estão muito mais presentes para os 60+. “Criou-se a ideia de que toda pessoa madura é intransigente, dependente, doente, incapaz, inflexível. E o preconceito com o idadismo, especialmente nas sociedades ocidentais, começa cedo, por vezes aos 55 anos ou menos”, explica.
O coordenador explica que as formas de discriminação ocorrem do micro ao macro, em diferentes escalas e ambientes. Ele cita que em um levantamento feito em grupos do Facebook concluiu-se que dos 84 dos grupos pesquisados nas redes sobre idosos, 83 usavam imagens estereotipadas. Além disso, foi constatado que quase a metade desses grupos defendiam a exclusão dos longevos de atividades sociais, como passeios à shopping centers, por exemplo.
O que parece inofensivo, na verdade pode ser tornar uma situação grave e de saúde pública. De acordo com Dorea, a discriminação sofrida por essas pessoas pode levar à quadros graves, como aumento dos riscos de infarto, demência, ansiedade, depressão e ainda pode diminuir a expectativa de vida em até 7.5 anos.
“Idadismo é o preconceito mais recorrente e mais perigoso, porém, o menos discutido. Nos habituamos a ouvir e tolerar expressões idadistas, que afetam o psicológico e a saúde dos longevos. É importante destacar também que o idadismo é interseccional, ou seja, ele soma-se com outros preconceitos. Se você é mulher, negra e idosa, carregará três tipos de discriminação com você”.
Como melhorar?
Mesmo com o avançar das discussões sobre longevidade, é importante combater o preconceito do idadismo com a quebra de determinados paradigmas. Egídio lembra que a população sênior possui diversas qualidades e que a experiência de vida deles agrega em mais chances de sucesso profissional. “É preciso desmistificar alguns padrões, por exemplo: startups com fundadores acima dos 50 anos têm mais chances de sucesso do que empresas com líderes de 30 anos. A falência de pequenas empresas também é menor de acordo com o avançar da idade. No Japão, a idade média dos motoristas de aplicativo é de 59.9 anos. A população sênior está cada vez mais ativa e interessada em aprender coisas novas, além de buscar aperfeiçoamento profissional. Não é mais possível tolerar a imagem de que todo idoso é incapaz”, destaca.
Para dar voz, ouvir e entender os caminhos que os longevos vêm traçando no Brasil, em setembro acontece a quarta edição do Longevidade Expo+Fórum, um evento todo voltado para as questões do envelhecimento saudável. O encontro será de 29 de setembro a 1º de outubro no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo.