“O Brasil é um país sem memória porque não temos o incentivo para a construção de museus, bibliotecas e o sistema educacional público é fraco”, afirmou o escritor, dramaturgo e jornalista, Marcelo Rubens Paiva, durante participação na Longevidade Expo+Fórum 2023.
Ele falou no evento sobre o processo que passou para escrever o livro “Ainda Estou Aqui”, que relata as memórias de sua mãe, Eunice Paiva, que lutou contra a ditadura e testemunhou momentos políticos marcantes do país.
Paiva explicou que a ideia para escrever o livro surgiu após as manifestações de junho de 2013 que aconteceram no Brasil. “As manifestações que iniciaram como o movimento ‘passe livre’ foram sequestradas pela extrema-direita e transformaram-se em um movimento de contestação contra o regime democrático e pedidos de intervenção militar. Foi um susto muito grande para aqueles que lutaram pela redemocratização é que tinham consciência do que foi o período da ditadura militar”, disse o escritor.
Ele explicou que se sentiu na obrigação de relatar como foi a ditadura militar no Brasil e o que aconteceu com a sua família na época sob a ótica da sua mãe. O pai de Paiva, o ex-deputado Rubens Paiva, foi preso, torturado e morto nas instalações do DOI-CODI. Toda a verdade sobre o que aconteceu com o ex-deputado só foi conhecida durante a Comissão Nacional da Verdade, que investigou as graves violações que aconteceram no período da ditadura.
“Minha mãe estava no início da doença de Alzheimer. Era um arquivo vivo que estava perdendo memória, por isso tive que correr para resgatar os últimos lampejos de memória que ela tinha deste período”, afirmou Paiva.
O escritor disse também o quão doloroso foi revisitar as memórias para o livro e que teve que recorrer à sua ‘frieza profissional’. “Tive que afastar as emoções por ser testemunha daquela história e me transformar em um narrador com a aplicação de técnicas literárias, o que me ajudou a escrever, por exemplo, sobre a tortura do meu pai”.
Ele ainda comentou que com a doença da mãe aconteceu uma inversão de papéis, onde ele passou a cuidar de quem cuidava dele. “É difícil estar preparado para passar a cuidar dos pais”, finalizou.