O flagelo da desigualdade racial foi colocado em discussão no painel que reuniu a gestora do Itaú Viver Mais, Anna Fontes, e o coordenador de projetos no Afro-Cebrap, Huri Paz. O painel teve a mediação de Vanessa Café, líder de reputação e marketing no time de redes sociais do Itaú Unibanco.
Durante o painel foi apresentada uma pesquisa sobre envelhecimento e desigualdades raciais feita pelo time do Afro-Cebrap com o propósito de facilitar a percepção da diversidade em diversos âmbitos.
“A pesquisa foi realizada visando entender como as pessoas brancas estão envelhecendo em relação às pessoas negras e se existem desigualdades nesse processo de envelhecimento. Demos uma abordagem analítica que contempla a acumulação das desigualdades ao longo das fases da vida e é na velhice que é possível observar o resultado e o impacto do processo de acumulação de desigualdades de acesso a direitos e recursos ao longo de todo o percurso da vida de uma pessoa agora”, explicou Paz.
Foi analisada uma série de fatores ao longo da vida de pessoas, considerando três cidades: São Paulo, Salvador e Porto Alegre. A escolha dessas cidades se deu pelo fato de possuírem um alto índice de envelhecimento populacional e de serem metrópoles nas quais a proporção de idosos em relação à população jovem cresce de maneira mais acelerada. Considerou-se também a diversidade regional apresentada.
O estudo focou especificamente quatro faixas etárias: de 50 a 59 anos; de 60 a 69 anos; 70 a 79 anos; e 80 anos ou mais, considerando 12 dimensões, desde as questões financeiras até as questões de autoestima e bem-estar.
Durante a participação na V Longevidade Expo+Fórum, Paz destacou uma das dimensões na qual as desigualdades raciais mais aparecem. “São elas a dimensão da saúde: nas três capitais, homens e mulheres negras têm o pior desempenho no indicador de saúde quando comparados aos homens e as mulheres brancas. Na maioria das faixas etárias, os indicadores de saúde das mulheres em geral são superiores aos dos homens, independente de raça, o que indica que as mulheres costumam se cuidar mais, entretanto em relação aos homens, mas quando o componente racial entra, as mulheres negras têm indicadores de saúde menores quando comparado às mulheres brancas e aos homens brancos. Sobre mortalidade, em média em São Paulo, 71% das mortes entre os homens negros ocorrem até os 69 anos, enquanto entre os homens brancos esse percentual é de 48%. Isso quer dizer que a população negra especificamente de homens negros costuma envelhecer em média até os seus 69 anos, enquanto a população branca, especificamente de homens brancos, envelhece até os seus 80. Isso significa dizer que as pessoas negras não chegam sequer a ter o direito de envelhecerem e viverem o mesmo tempo de pessoas brancas”, detalhou Huri Paz.
Na visão de Ana, “precisamos de dados sobre a questão, que promovam o entendimento da fotografia da sociedade brasileira. O primeiro ponto é entender como funciona a rede de proteção de direitos da pessoa negra idosa que já são legítimos, mas que não são visibilizados. Então o momento é de fazer com que cada parceiro que está dentro dessa rede – governo, iniciativa privada e sociedade — entenda a realidade social brasileira. Quando olhamos a fotografia social do Brasil sempre digo que vai se perceber que 56% dela será composta por pessoas negras, ou seja, pardas e pretas, e se a gente não tem isso representado nas políticas públicas e nas iniciativas privadas é porque tem alguma coisa que precisa ser olhada. A questão racial é invisibilizada na sociedade e a gente precisa dar conta disso. Assim como a agenda da longevidade”, disse Ana.
A íntegra do painel está disponível no canal da Longevidade Expo+Fórum. Clique aqui.
(Texto e imagens: Divulgação)