Por Cléa Klouri, Marcio Weiler e Mylla Vieira*
A Creator Economy tem crescido, globalmente, nos últimos anos. Para se ter ideia do volume mobilizado, um estudo do Goldman Sachs Research revela que, em 2023, ela movimentou US$ 250 bilhões. Como parte central da estratégia de marketing de diversas marcas, os influenciadores digitais ascendem como embaixadores-chave para diferentes produtos e serviços. No país, para aterrissar essa tendência, é fundamental usar as lentes da longevidade e da diversidade racial para entender a verdadeira potência desse movimento.
Dentro desse contexto, uma pesquisa inédita no Brasil – Diversidade Conectada 45+ – capturou um movimento emergente nas redes sociais: a potência do discurso dos influenciadores digitais negros e pardos maduros no combate ao etarismo. A análise dos dados do mapeamento da Silver Makers revela que esses produtores de conteúdo têm desempenhado um papel crucial na sociedade não somente por aumentarem a conscientização sobre questões raciais, mas por incorporarem em seus discursos denúncias de preconceito etário.
Vale ressaltar que os influenciadores diversos acima de 50 anos enfrentam a tarefa complexa de navegar por múltiplas camadas de discriminação e preconceito; muitas vezes precisam superar obstáculos significativos para obter reconhecimento e construir uma audiência. A valorização e o apoio a esses influenciadores são essenciais para a criação de um espaço digital verdadeiramente inclusivo e representativo.
Dentro dos conteúdos analisados pela pesquisa foram encontrados 171 perfis de negros e pardos que promovem a conscientização sobre questões raciais, desconstroem os estereótipos associados ao envelhecimento e demonstram que a idade não é um obstáculo para a relevância social, mas sim um período de grande potencial.
Os conteúdos produzidos são exemplos poderosos de que a experiência de vida é um recurso valioso. Esses criadores não apenas inspiram as próprias comunidades, como empoderam pessoas mais velhas – especialmente das comunidades negras e pardas, que se veem representadas e valorizadas por esses influenciadores. Além disso, esses influenciadores servem como modelos positivos para os mais jovens, promovendo uma visão positiva do envelhecimento.
A maioria dos perfis pesquisados usam as redes sociais como veículo de expressão, conscientização e ativismo social, empoderamento e empreendedorismo, alavancando o próprio negócio. Muitos perfis participam de campanhas pontuais com marcas que serve como complemento da renda, mas possuem outro emprego como fonte principal da renda.
Um ponto a destacar, dentro do mapeamento dos 171 mapeados nesse grupo, é a identificação em mais de uma categoria de diversidade, tais como LGBTQIA+, Plus Size e PcD (pessoas com deficiência). A análise revelou que 74% dos influenciadores são negros (127 influenciadores); 9% dos negros são LGBTQIA+ (16 influenciadores); 7% são negros plus size (13 influenciadores); 5% são pardos (8 influenciadores); 2% são negros PcD (3 influenciadores); 2% são pardos plus size (3 influenciadores); e 1% é composto de negros plus size LGBTQIA+ (1 influenciador).
A maioria dos influenciadores negros e pardos está na região Sudeste (67%) e Nordeste (20%); as redes de preferência são Facebook (22%); YouTube (16%) e TikTok (14%). A variedade de tópicos reflete a amplitude dos interesses desses influenciadores, indicando uma capacidade de atingir diferentes públicos e nichos. Além disso, a presença significativa de temas culturais, ativismo e de empoderamento destaca o papel na promoção e na valorização da cultura negra e da diversidade. Os principais temas são comportamento (25%), cultura (16%), ativismo (14%), seguido de moda (8%), saúde e bem-estar (7%), estilo de vida (6%), beleza e make (5%), empreendedorismo (5%), carreira/negócios (2%), humor (2%), viagem e turismo (2%), e espiritualidade (2%).
Em última análise, o recorte de influenciadores negros e pardos da pesquisa Diversidade Conectada 45+ evidencia a diversidade existente entre o grupo, mostrando a importância de reconhecer e valorizar a multiplicidade. A visibilidade de suas diferentes identidades e características ajuda a promover uma representação mais verdadeira da sociedade, além de desafiar estereótipos e preconceitos. Do ponto de vista das marcas, o mapeamento traz um alerta para que o marketing acolha o grupo como parte de uma rede de criadores de conteúdo potente e altamente influente. Essa pesquisa mostra a urgência em reconhecer e valorizar as vozes maduras brasileiras diversas.
*Sobre os autores
Cléa Klouri | Sócia-fundadora do Silver Makers e Data8, atua há mais de trinta anos na área de planejamento, com passagem por grandes agências de publicidade. Especialista no mercado da longevidade, liderou projetos de longevidade na Yunus Corporate Innovation do Brasil; é conselheira do Fórum de Gerações e Futuro do Trabalho, ambos do Instituto Mais Diversidade.
Mylla Vieira | Sócia do Silver Makers, é graduada em Publicidade e pós-graduada em Marketing e Administração nos Estados Unidos. Durante mais de duas décadas, atuou nas áreas de Marketing e Planejamento Estratégico de empresas dos setores de entretenimento e bens de consumo.
Marcio Weiler | Sócio do Silver Makers, é graduado em Administração de Empresas e possui pós-graduação em Marketing. A experiência em Marketing de Consumo foi construída como gestor em multinacionais. Hoje, integra hubs de Comunicação e Longevidade.
(Imagem: Divulgação)