Doenças comuns na longevidade podem ser tratadas a partir da planta
A cannabis medicinal é um assunto de interesse crescente no campo da saúde, e muitas pesquisas estão sendo realizadas para entender melhor os benefícios do uso terapêutico da planta. Estudos recentes mostram grandes avanços no tratamento de doenças e sintomas, principalmente em problemas que acometem a longevidade, como Alzheimer e dores crônicas.
De acordo com Agência Nacional de Saúde Suplementar (Anvisa), de 2015 a 2021, o Brasil recebeu mais de 70,4 mil pedidos para importação de medicamentos à base de cannabis. Há 5 anos, o órgão havia concedido a importação para 2.101 formulários preenchidos. Em 2021, o número é 15 vezes maior, resultando em 32.416 liberações. No início deste ano, o Governo do Estado de São Paulo sancionou a lei 17.618/2023, que institui o fornecimento gratuito de medicamentos à base de canabidiol no SUS, o que deve fomentar o acesso ao produto às pessoas mais vulneráveis.
A última edição da Longevidade Expo+Fórum debateu esse tema em um painel com especialistas. Na ocasião, foi abordado a gama de tratamentos que podem ser feitos a partir da planta, inclusive, para a prevenção de doenças ligadas à longevidade. “A cannabis pode melhorar a plasticidade cerebral, o inverso do mito de que ela destrói neurônios. O uso medicinal da planta ajuda na qualidade de vida de pessoas 60+, uma vez que pode melhorar a cognição, ansiedade e dores crônicas”, explica Dr. Mario Luiz Grecco, especialista em clínica médica, saúde ocupacional e medicina canabinoide.
O tratamento contra o Alzheimer, uma das doenças que mais acomete os longevos, também vem apresentando bons resultados a partir do uso da planta. No Paraná, um estudo pioneiro realizado pela Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) investiga os benefícios do THC (Tetrahidrocanabinol) e CBD (canabidiol) para a reversão dos sintomas da doença. Após 22 meses de acompanhamento, os pesquisadores observaram melhoras no humor, no sono e na memória de um paciente de 78 anos participante do estudo.
A comprovação científica do método e a desmistificação do uso foram os temas centrais do debate no palco da Longevidade Expo+Fórum, uma vez que desinformação, fakes news e antigos preconceitos podem confundir a população e atrasar o avanço do uso no Brasil. “Infelizmente as pessoas procuram a cannabis como última opção, quando deveria ter sido a primeira. O combate ao preconceito é difícil, mas vejo uma evolução significativa. Hoje atendendo em meu consultório muitos idosos que são levados para conhecer o tratamento através das novas gerações, o que mostra a importância de difusão desse debate”, destaca o médico.
O Brasil é um dos vanguardistas em estudos de terapias por meio da cannabis. O professor e médico Elisaldo Luiz de Araujo Carlini foi um dos maiores especialistas brasileiros no tema. “É importante destacar que desde 1974 a Universidade de São Paulo (USP) já mostrava a eficácia do uso da cannabis para epilepsia refratária. Dr Carlini foi um expoente no assunto, nos deixando um grande legado. Essa é uma medicina baseada em evidência. Há crianças que mesmo usando 25 comprimidos por dia ainda convulsionam, enquanto outras com um tratamento adequado de cannabis medicinal podem levar uma vida normal”, explica Dr. Sidarta Zuanon Dias, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria da USP.
A ampliação da legislação que regulamenta o uso é outro tema apontado pelos especialistas. “É preciso avançar na legislação e entender que mais liberdade regulatória não significa o aumento do uso recreativo da planta. Não há ligação entre as coisas. A ampliação do uso favorece, inclusive, a descontinuidade de outros medicamentos prescritos, que podem ser prejudiciais à longo prazo”, ressalta o psiquiatra e psicoterapeuta de adolescentes, adultos e idosos pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, Dr. Rodrigo Fonseca Martins Leite.
Mesmo diante dos benefícios apresentados, é importante destacar que o medicamento não cabe a todos os casos e existem regras específicas para cada tratamento. A prescrição deve ser feita por um médico especialista.
Veja este e toda a programação de painéis da Longevidade Expo+Fórum 2022, no canal do evento no Youtube. Clique aqui.
(Texto: Aline Porfírio / Imagem: Fred Uehara