Tanto a prevenção quanto alguns fatores externos podem determinar nossa qualidade de vida agora e no futuro. Ou seja, a longevidade pode ser escrita e reescrito no presente.
Conversava outro dia com um amigo cientista e parceiro na Universidade de Düsseldorf, na Alemanha, sobre o que podemos desejar para o futuro, dada a percepção de que uma maior expectativa de vida no mundo, ainda que de forma irregular, tem aumentado significativamente.
Tudo isso não são meras “divagações”. Sabemos com um grau mais apurado de observação e com embasamento científico que algumas questões sobre a nossa vida e nossa saúde não dependem exclusivamente de nós mesmos. Por outro lado, reconhecemos que até aqui fomos permeados por nossas ações conscientes e inconscientes, que nos fizeram viver da melhor e mais saudável maneira possível.
Um ponto de influência em nossas vidas são as escolhas que fazemos, o modo de vida que optamos, talvez como um modelo “seguro e saudável”. Tudo nos influencia, nossos relacionamentos, nossos hábitos, nossa alimentação… São fatores externos que, sabemos, atuam no nosso organismo, nos nossos genes. O ambiente ajuda a determinar a nossa saúde, qualidade e tempo de vida. Por isso, mais uma vez, olhamos para o futuro sob a ótica também da epigenética, que nos ensinará como explorar essas conexões entre influências ambientais e regulação de genes.
Sobre a longevidade, que começa no ponto de início das nossas vidas, ela está no tempo, afeta nossa “máquina-corpo”, que aprendeu a duras penas a se defender. A produção de anticorpos, por exemplo, diz muito sobre isso: nos defende contra o colapso extremo que pode afetar a nossa “máquina”. Às vezes, sem a devida defesa, essa “máquina-corpo” sofrer prejuízos, ou até mesmo parar de vez e nos deixar pelo caminho.
Para reduzir os riscos, a “máquina-corpo” precisa de constante manutenção. Merecem alguns cuidados até simples. Como um carro que precisa de combustível, óleo e pneus bem calibrados para evitar consumo e desgastes desnecessários. Essa “manutenção” para o nosso corpo é o que chamamos de prevenção.
Prevenir, diagnosticar, tratar e cuidar
A base de conhecimento que já temos sobre genética e epigenética – e tudo ainda requer mais estudos – até aqui já beneficia a todos na busca por uma melhor qualidade de vida. Já conseguimos ganhos específicos nos diagnósticos, nos melhores tratamentos e até para a possível cura de determinadas doenças. Muito além de prever problemas, o objetivo deve ser evitar que determinadas doenças se desenvolvam ou, pelo menos, pode viver mais com menos anos de enfermidades.
Ações individuais
Cada uma pode melhorar a qualidade e aumentar a expectativa de vida individualmente. Modificar o estilo de vida já é um começo, que vai ajudar a prevenir doenças evitáveis e reduzir os riscos para outras.
Por outro lado, a ciência também é um braço que nos apoia constantemente. Dois exemplos importantes são a epigenética e as vacinas imunizantes contra a Covid-19, desenvolvidas em tempo recorde.
No caso da epigenética, que recorre à análise do nosso material genético, nosso DNA, localizado em todas as células do nosso corpo, a base científica está em compreender que as células não contêm apenas os bons genes necessários para a boa função do nosso corpo. Assim, a detecção epigenética da idade biológica do seu próprio organismo aponta para o nosso estilo de vida e permite que se preveja a expectativa de vida.
Sobre as vacinas, a pandemia do novo coronavírus impulsionou empresas e centros de pesquisas na busca pelos imunizantes e, para isso, contou com a colaboração de cientistas de todo mundo, praticamente em tempo real, como se fosse um único time atrás de um único objetivo: salvar vidas.
Ou seja, a longevidade é uma questão individual, mas também coletiva.
Há muito tempo temos consciência de que a prevenção na saúde parte de nós, está associada ao nosso estilo de vida, à ampliação da prática de atividade física, à boa alimentação, à melhor qualidade do nosso sono e à redução do estresse. Esses fatores externos, cujos controles estão nas nossas mãos, são fundamentais para determinar a longevidade que pretendemos.
Certamente, a medicina mais individualizada não abandonará a medicina tradicional, mas mudará paradigmas e conceitos preestabelecidos. Preceitos de Hipócrates ficam cada vez mais claros ao respeitar cada indivíduo, suas dores e doenças.
Sobre o autor
Marcelo Bendhack é mestre e doutor em Urologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR/1999). Pós-Doutorado em Uro-Oncologia pela Universidade de Düsseldorf, Alemanha (2001). Especialista pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e Presidente da Sociedade Latino-Americana de Uro-Oncologia (UROLA). Membro do conselho na Federação Mundial de Uro-Oncologia (WUOF) e do corpo clínico do Hospital Nossa Senhora das Graças (Curitiba/PR).
Artigo publicado originalmente no Blog Letra de Médico (Veja.com)
Fonte: Letra de Médico
(Imagem: Samira Chami Neves)