O painel “Construção de uma visão inovadora para a indústria da aposentadoria” trouxe reflexões sobre como a nova longevidade e o envelhecimento ativo estão redefinindo o conceito de aposentadoria. Participaram do painel Nilton Molina, presidente do Instituto de Longevidade MAG e do Conselho da MAG Fundos de Pensão; Gleisson Rubin, diretor do Instituto; e Ricardo Neves, consultor em estratégia empresarial. O evento aconteceu no Forúm São Paulo da Longevidade e Longevidade Expo, que começou no domingo (29) no Distrito Anhembi, em São Paulo, e termina hoje, 1 de outubro, celebrando o Dia Internacional da Pessoa Idosa e o Dia nacional do Idoso.
Para Gleisson Rubin, a transformação demográfica demanda uma nova forma de pensar a aposentadoria. “Estamos vivendo uma revolução comportamental liderada pela Geração Baby Boomer, que está ressignificando a aposentadoria. A ideia de que esse momento é o último capítulo da vida está sendo deixada para trás, abrindo espaço para uma fase de novas oportunidades e realizações pessoais,” afirmou Rubin.
Ele destacou ainda o impacto financeiro desse movimento: “A previdência consome 40% de todos os recursos que o governo destina a projetos necessários ao desenvolvimento, representando 46% do total de receitas.” Rubin também apontou o desperdício ao não aproveitar essa força produtiva, que poderia continuar contribuindo ativamente para a sociedade.
Ricardo Neves, consultor e autor do livro A Nova Longevidade – Reinventando a Aposentadoria, trouxe uma visão otimista sobre o tema. “Estamos diante de um boom de aposentados, e os baby boomers estão descobrindo o paradoxo da aposentadoria. Aposentar-se, na verdade, não é bom para a saúde física, mental e cognitiva”, afirmou Neves. Ele explicou que a história da aposentadoria começou em Berlim, em 1889, quando a expectativa de vida era significativamente menor do que hoje. “De lá para cá, a expectativa de vida aumentou em 40 anos. Isso representa a democratização da longevidade, o que é uma boa notícia, mas também gera novos desafios.”
No livro, Neves propõe uma nova narrativa para a longevidade, destacando a importância da “reinvenção e propósito”. Ele enfatizou a necessidade de “recabeamento do cérebro”, a fim de reencontrar sentido, além de promover reinserção social, aprendizado contínuo e engajamento. “O paradoxo da aposentadoria está na desconexão da rede de trabalho, perda de conexões sociais e do sentido de propósito, declínio da autoestima e excesso de medicalização, o que leva ao declínio cognitivo. Essa é uma verdade inconveniente e uma das mais contundentes.”
Neves também ressaltou a vitalidade do cérebro ao longo da vida: “Novas células cerebrais são produzidas durante toda a vida. O declínio começa a partir da internalização dos clichês sobre o envelhecimento. Por isso, precisamos mudar a narrativa.” Ele questionou como será o futuro com um terço da população da Europa sendo composta por baby boomers ou geração X: “Como vamos lidar com isso?”
Já, Nilton Molina, presidente do Instituto de Longevidade MAG, trouxe sua visão do ponto de vista macroeconômico e destacou a complexidade do cenário atual. “Estamos diante de um enorme turbilhão e ainda não sabemos as respostas. Este evento é uma excelente mostra do que está acontecendo. Há pouco tempo, a sociedade não se dava conta do que significam os impactos sociais da longevidade.”
Molina ainda pontuou a situação preocupante da previdência no Brasil. “Hoje, 83% dos brasileiros aposentados estão recebendo do seguro social o mesmo que ganhavam enquanto estavam na ativa, mas isso é insustentável a longo prazo. O indivíduo precisará trabalhar nessa nova aposentadoria enquanto tiver autonomia física e intelectual para fazê-lo. É o que deve acontecer.” Ele destacou também que a solução futura passa pela sustentação da previdência através de impostos gerais e não apenas da folha de pagamento.
“Quem vai pagar a conta do idoso? O seguro social não terá condições de arcar com todos. As famílias são pequenas hoje em dia. Temos o SUS, que é algo maravilhoso, mas não temos um sistema de aposentadoria universal. Em 20 anos, o maior benefício do INSS deverá ser, no máximo, de um salário mínimo. As pessoas precisam economizar desde já”, alertou Molina.