Antropóloga da Universidade Federal do Rio de Janeiro enfatiza a relevância dos laços afetivos como aprendizado a quem quer envelhecer de uma maneira livre e saudável
Uma das pesquisadoras que abriu os trabalhos sobre longevidade no Brasil é a antropóloga, escritora e colunista da Folha de São Paulo, Mirian Goldenberg. Apoiadora e participante da Longevidade Expo+Fórum, Goldenberg é autora do ‘Bela Velhice’ e, desde 2015, pesquisa os ‘Super Idosos’.
A antropóloga conversou com a Longevidade Expo+Fórum sobre sua relação com os longevos, os aprendizados deste contato, as participações dela nas edições de 2019 e 2020 do evento e o seu novo livro, que tem lançamento marcado para este mês.
Com dezenas de livros publicados, Mirian estuda os longevos há 20 anos. Neste tempo, conversou com mais de 5 mil pessoas com mais de 60 anos e há seis anos dedica-se a estudar nonagenários e centenários. Um dos focos da antropóloga é entender as peculiaridades do envelhecimento para estes grupos e identificar as diferenças na passagem do tempo para homens e mulheres.
Os ‘super idosos’, como Mirian os define, são os indivíduos com mais de 90 anos, quase 100. “Entrevistei, filmei e conversei com 100 super idosos, mas os que acompanho regularmente são 30, que estão totalmente saudáveis, lúcidos, independentes, ativos e que resolvem os seus próprios problemas com alegria”, conta.
Amiga e pesquisadora
A pesquisadora afirma que este contato diário a faz deixar o papel de estudiosa e assumir o de amiga, tendo a amizade como base para a relação com os longevos. Com seus amigos centenários, ela faz jogos de palavras, conversa, lê, toca instrumentos, canta e, sobretudo, aprende. Para a escritora, o rol de amiga ganhou mais importância do que o de pesquisadora.
“A esta altura da vida, com mais de 90 anos, eles já perderam quase todos os amigos. Por isso, novas amizades são tão importantes. Eu, por exemplo, cumpro esse papel: sou uma amiga na qual confiam e com quem têm algum tipo de vínculo”, explica.
Dessas amizades, Mirian ganhou lições valiosas e descartou velhos preconceitos. “Seja qual for, todos eles têm um propósito de vida. Muitos, por exemplo, cuidam de outros longevos e isso é lindo. Eles amam e precisam aprender coisas novas todos os dias. Amam a música em geral, cujo papel deveria ser enfatizado. E todos têm bons amigos”.
Conhecendo a fundo os longevos, Mirian destaca que homens e mulheres vivem a longevidade de formas distintas. “O principal para as mulheres que envelhecem é a liberdade e a amizade. Já os homens valorizam o mundo do afeto e os projetos de vida. Entretanto, com o envelhecimento, os dois ganham coisas que não tinham”.
Por vezes, Mirian alerta que essa diferença pode gerar ruídos. “Há um desencontro importante entre os desejos dos homens e os das mulheres, o que não quer dizer que não possa existir uma vida amorosa bacana depois dos 60 e 70 anos, mas é mais difícil”, pondera.
Lançamento
Interessada em trazer mais pessoas para o debate sobre a longevidade, Mirian lança este mês seu mais novo livro: ‘A Invenção de Uma Bela Velhice’. Neste trabalho, a autora aborda o envelhecimento como um processo contínuo e a importância de se construir hoje o amanhã desejado.
“Envelhecer bem é simplesmente saber viver bem. Não é de uma hora para outra que você envelhece, você envelhece ao longo da vida. O que o meu novo livro mostra é como essas pessoas com que eu converso ensinam a ter uma vida com significado”, destaca.
Mirian participou da primeira edição do Longevidade Expo+Fórum, fazendo parte da arena Unibes Cultural. No ano seguinte, na Maratona Digital da Longevidade, ela integrou a mesa ‘Bem’ Estar no ‘Novo’ Estar. Para acompanhar a participação de Mirian Goldenberg e de todos os especialistas que integram o Longevidade Expo+Fórum 2021, acesse o site do evento.