Apesar de sua importância, a profissão ainda não é regulamentada no Brasil. Categoria busca formalização desde 2013 junto ao Congresso Nacional
O gerontólogo é o profissional especializado em todas as fases do envelhecimento. Com olhar amplo, ele trata das questões sociais, emocionais, clínicas e cognitivas do envelhecimento da sociedade como um todo, sendo um interlocutor estratégico entre o longevo, a família e a equipe médica.
Os primeiros cursos de bacharelado em gerontologia começaram a chegar ao Brasil após os anos 2000. Até então, essa era uma área buscada como especialização ou pós-graduação para outros profissionais, como médicos, nutricionistas, psicólogos, entre outros. Entretanto, mesmo após quase duas décadas de implantação, a gerontologia ainda é uma área pouco difundida e com escassas opções de cursos, ficando restrita, em sua maioria, às universidades públicas.
Visto que estudos recentes apontam que, em 2030, o Brasil terá a quinta população mais idosa do mundo, já é passada a hora de dar a verdadeira importância ao tema e aos profissionais da área, além de colocar a gerontologia como ferramenta de destaque para o desenvolvimento humano e social do país.
“O grande ponto de destaque dessa profissão é o perfil generalista e a interlocução que temos com outras áreas”, destaca Eva Bettine, presidente da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Segundo ela, a graduação demanda aprofundamento em áreas como psicologia, direito, assistência social, farmácia, arquitetura, entre outras.
“O gerontólogo é um profissional integralista, que escuta e atende o paciente e a família como um todo. É uma profissão de extrema relevância social, mas ainda pouco conhecida, afinal, o Brasil não se preparou para a longevidade com antecedência. A ABG defende a necessidade da inserção e promoção desses profissionais em ambientes acadêmicos, científicos, culturais e de atuação profissional, de modo que o tema longevidade faça parte de um planejamento de políticas públicas e sociais“, diz.
Hoje, o gerontólogo atua, principalmente, em conjunto com operadoras de saúde, no primeiro contato com os beneficiários para uma avaliação global e encaminhamento para o profissional de medicina ou para outras atividades e oficinas que possam colaborar com a situação, sem a necessidade de uma intervenção médica. Recentemente, tem ganhado espaço também como responsável técnico em residenciais e clínicas para longevos e com trabalhos em diversos equipamentos que atendem a população sênior em todas as complexidades.
De acordo com Eva, a pandemia contribuiu para dar mais visibilidade à carreira, porém é necessário ampliar o conhecimento das pessoas, do mercado e do governo sobre o assunto. Hoje, em São Paulo, o bacharelado em Gerontologia é oferecido na Universidade de São Paulo (USP) e na Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR). Outras quatro universidades aguardam a chancela do Ministério da Educação (MEC) para iniciar mais cursos. “O principal passo para ampliar a capilaridade da categoria e evidenciar sua importância é a regulamentação da profissão”, enfatiza Bettine.
Regulamentação
Desde 2013, a ABG busca regulamentar a profissão. Países como Panamá e Colômbia avançaram nessa questão e já possuem a atuação formal regulamentada. O PL 9003/2017, de autoria do senador Paulo Paim (PT-RS), propõe a regulamentação da atividade e foi aprovado pelo Senado. Atualmente, o documento aguarda parecer da relatora na Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa, deputada Tereza Nelma (PSD-AL), na Câmara dos Deputados.
“Entretanto, o projeto foi encaminhado com um substitutivo apensado pelo deputado Roberto de Lucena (REPUBLICANOS-SP), que inclui os profissionais tecnólogos no texto, mas sem detalhamento das suas atribuições e funções, que são diferentes do gerontólgo”, explica a presidente da ABG. Desde 2019, universidades particulares passaram a oferecer os cursos de tecnólogo em gerontologia.
Eva Bettine explica que, hoje, a Associação Brasileira de Gerontologia pleiteia a revisão do documento para que se faça a diferenciação entre os dois cursos. “Precisamos que, além da regulamentação, o PL descreva com precisão as diferenças entre bacharelado e tecnologia na área. Um profissional graduado como bacharel realiza um curso presencial de quatro anos e precisa de 1020 horas de estágio para concluir sua formação. Já o tecnólogo é um curso de dois anos, pode ser feito na modalidade à distância e não tem a obrigatoriedade de estágio. Respeitamos todos os profissionais e entendemos a necessidade do mercado em formar pessoas de forma mais rápida, mas é preciso determinar as atuações de cada graduação. Podemos tomar como exemplo a área da enfermagem que, mesmo não se tratando de curso superior, conseguiu diferenciar suas atuações de acordo com a formação de cada um”.
Se aprovado, o PL estabelece que, para o exercício da atividade, passa a ser necessária a graduação em gerontologia, além de fixar as competências do profissional e dispor das possibilidade de atendimentos por gerontólogos no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) e do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). A proposta também prevê a instituição do dia 24 de março como Dia Nacional do Gerontólogo. Leia mais sobre o projeto aqui.
A importância da gerontologia é um dos temas que serão debatidos na Longevidade Expo+Fórum 2022, que acontece no Centro de Convenções Rebouças de 29 de setembro a 1o de outubro, um encontro dedicado exclusivamente às questões do público 60+ e ao envelhecimento ativo e saudável.