A realidade da longevidade no país foi tema de um painel que reuniu o secretário nacional dos Direitos Humanos da Pessoa Idosa (ligado ao Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania – MDHC), Alexandre da Silva, e o gerontologista, Dr. Alexandre Kalache.
O médico abriu a conversa durante a V Longevidade Expo+Fórum, confessando sua admiração pelo trabalho desenvolvido pelo secretário sob o comando de Silva. “Não há nada melhor do que ver o legado dando certo, então, expresso meu carinho, admiração profunda e minha certeza de que, sob suas mãos, a Secretaria Especial de Direitos das Pessoas Idosas só tende a florescer. Mas esse desafio é muito maior do que a secretaria enfrenta”, disse.
Kalache elencou o que considera ser os 10 desafios para a longevidade hoje em dia: sem ordem de importância, ele indicou o que chamou de ameaças ao Sistema Único de Saúde. “83% das pessoas idosas usam única e exclusivamente o SUS para ter acesso à saúde. Mas esse SUS está sob ameaça de desaparecer pela força de lobbies em atividade no Congresso Nacional”.
O segundo desafio é a falta de uma política de aprendizagem ao longo da vida. “Temos que aprender a aprender desde crianças até a velhice, ou nos tornaremos obsoletos. Quem não se preparar, não se atualizar, estará fadado a enfrentar o idadismo. E não pensem que esse preconceito vem apenas aos 60 anos. Ele pode vir muito antes e de uma forma muito perversa”, alertou.
Temos que aprender a aprender desde crianças até a velhice, ou nos tornaremos obsoletos. Quem não se preparar, não se atualizar, estará fadado a enfrentar o idadismo. E não pensem que esse preconceito vem apenas aos 60 anos. Ele pode vir muito antes e de uma forma muito perversa
Dr. Alexandre Kalache
Outro grande desafio é a pobreza e a desigualdade. “Somos um país que envelhece precocemente e mal. 28 milhões de pessoas idosas no Brasil estão abaixo da linha da pobreza, uma das razões é que se perde renda à medida que se envelhece”.
Segundo ele, outra dificuldade é não contar com uma política orquestrada para combater este preconceito tabu, que é o idadismo. Ainda entre os desafios, temos as mudanças climáticas, o impacto nas pessoas idosas e o engajamento dos partidos políticos na questão da longevidade, afinal, os idosos também são eleitores. “E temos também a dificuldade de desenvolver uma cultura do cuidado, quando vemos que metade da população, a que se refere aos homens, não está respondendo a essa cultura e não participa. A velocidade com que o envelhecimento acontece exige que todos participem”.
O secretário destacou o valor de iniciativas como a Longevidade Expo+Fórum. “É muito importante esta oportunidade de falar para pessoas que realmente querem fazer parte desse movimento. Acho um momento bastante oportuno. Precisamos fazer de fato um movimento coletivo para levantar a pauta da pessoa idosa. Estamos falando do grupo populacional que mais cresce em nosso país e vejamos os desafios: quando falamos que nós somos hoje uma população verdadeiramente negra, com 54 e, em alguns lugares, 56% de população que se considera preta ou parda, mas que, quando o recorte é a análise a partir das pessoas 60 anos, esse número cai para 48%. Onde estão essas pessoas que não conseguiram envelhecer? E dessas pessoas que envelheceram, como estão? Sabemos que essas pessoas não conseguem envelhecer da mesma forma que outros grupos étnicos”.
Onde estão essas pessoas que não conseguiram envelhecer? E dessas pessoas que envelheceram, como estão? Sabemos que essas pessoas não conseguem envelhecer da mesma forma que outros grupos étnicos
Alexandre da Silva, secretário nacional dos Direitos Humanos da Pessoa Idosa
Silva destacou outro ponto a ser considerado: a feminização da velhice, ou seja, o fato de muito mais pessoas do gênero feminino estarem envelhecendo. “Mas o que me preocupa é o quanto já estamos, e não deveríamos, naturalizando a morte precoce de pessoas do gênero masculino. Outra questão importante é o baixo grau de escolaridade entre os idosos no país e, por fim, a desigualdade, o nosso grande problema.
Veja a íntegra do painel no canal da Longevidade Expo+Fórum no YouTube. Clique aqui.