Estereótipos e superficialidade de pautas foram alguns dos temas abordados
Com o aumento da expectativa de vida e o envelhecimento da população, é crucial que a mídia brasileira se preocupe em retratar de forma mais justa e diversa os longevos em seus conteúdos. A inclusão de pessoas 60+ na imprensa pode influenciar significativamente a forma como a sociedade enxerga e trata a longevidade, contribuindo para políticas de maior inclusão social e bem-estar. Nessa perspectiva, é fundamental que a mídia trabalhe formas de combater estereótipos e preconceitos ligados ao idadismo, além de promover uma imagem mais realista e humanizada do envelhecimento ativo no país.
Ao lermos jornais de mais de 50 anos atrás certamente vamos nos deparar com outro tipo de longevidade. A manchete do Jornal do Commercio de 4 de agosto de 1960, por exemplo, dizia: “Ônibus entrou na casa humilde e foi apanhar a velhinha de 42 anos”. A reportagem contava sobre um acidente onde o veículo bateu em uma casa e atingiu uma mulher de 42 anos que, para a mídia dos anos 60, já era considerada idosa.
Passados 60 anos a realidade mudou, mas, mesmo com evidentes avanços nos últimos anos, a mídia brasileira ainda precisa trabalhar a longevidade e a representatividade de forma mais ampla. O tema é frequentemente associado a assuntos restritos, como saúde e aposentadoria, o que, de acordo com comunicadores, atrasa o processo de conscientização e inclusão.
“Esse é um dos principais erros, pois existe toda uma diversidade de temas que cabem muito bem a esse público e não são explorados. É preciso abordar o propósito dos longevos na mídia”, comenta o jornalista Mauro Tagliaferri durante painel especial da Longevidade Expo+Fórum 2022. O encontro reuniu ainda grandes nomes do jornalismo, como Heródoto Barbeiro e Izabella Camargo, para discutir a representatividade da população sênior na imprensa brasileira.
Veterano dentre os colegas, o jornalista Heródoto Barbeiro faz questão de destacar sua idade. “Eu tenho 76 anos, sou velho, longevo, ou qualquer outra coisa que queiram me chamar. Mas, o fato é que tenho 76 anos e gosto de reforçar isso”, disse aos presentes.
Izabella Camargo completou que a longevidade deve ser celebrada, pois nem todos terão a oportunidade de desfrutá-la. “Infelizmente, o benefício da longevidade não atinge a todos, é preciso que tenhamos essa consciência”.
A jornalista aproveitou o momento para abordar as desigualdades do envelhecimento entre homens e mulheres. “Há um outro fator problemático que é o fato da aparência. O homem grisalho na TV passa credibilidade, autoridade e segurança. Já a mulher grisalha e com suas rugas é chamada de descuidada. É um ponto delicado que precisa ser revisto”, ressalta.
Estereótipo do mau humor – Talvez um dos estereótipos mais cultivados de forma errônea na sociedade seja o do idoso rabugento. Durante o painel, Heródoto Barbeiro falou sobre a importância de combater esse tipo de pensamento e sobre o potencial que a intergeracionalidade pode agregar para ambas as partes. “Credibilidade não é sinônimo de mau humor. Eu dei aulas em cursinhos educacionais para jovens e vi como essa ideia pode atrapalhar. Naquela escola, os alunos é que avaliavam os professores e eu, por ser mais velho, constantemente ficava no final do ranking. Comecei então a estudar como eles me avaliavam e fui ajustando minha postura à realidade deles, até que deu muito certo. Isso é credibilidade, conquistar”, afirma o jornalista.
A roda de conversa foi encerrada com o emocionante e espontâneo depoimento de Cristina Novaes, uma espectadora que dividiu com os presentes sua experiência no assunto. Aos 77 anos, Cristina foi contratada para ser garota propaganda de uma empresa americana. “É incrível ver que podemos, que temos a chance de estar lá representando e sendo representados”, destaca.
Veja a íntegra do painel no canal da Longevidade Expo+Fórum noYoutube. Clique aqui.
(Texto: Aline Portfírio / Imagens: Divulgação)