Eleito como o prefeito mais jovem de São Pedro do Turvo, no interior de São Paulo, Marco Aurélio Oliveira Pinheiro defende que as questões do envelhecimento são pautas prioritárias na gestão pública
Mesmo sendo jovem, o Brasil já está em alerta para a possível entrada no hall dos países com as populações mais longevas. Isso porque hoje as pessoas vivem mais e optam por menos filhos, na contramão da realidade de algumas décadas atrás. Atualmente, o Brasil conta com 31,23 milhões de pessoas 60+ e, segundo recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), nos últimos nove anos o contingente de idosos residentes no país aumentou 39,8%. O levantamento aponta ainda outra preocupação: uma significativa redução da população mais jovem em números absolutos. Há hoje cerca de 131,93 milhões de residentes com menos de 30 anos no Brasil, 5,4% a menos do que em 2012.
Tais números apresentam aos gestores públicos a necessidade de comprometimento com políticas que tratem da longevidade, assegurando desde já uma infraestrutura física, econômica e social nas cidades brasileiras que garantam um envelhecimento saudável, ativo e participativo.
São Pedro do Turvo é um município do interior de São Paulo com apenas oito mil habitantes, sendo uma parte considerável desse número formada por pessoas longevas. O prefeito da cidade, Marco Aurélio Oliveira Pinheiro, o Marquinho, foi eleito o mandatário mais jovem da história do município, com apenas 33 anos, além de ser o primeiro a conquistar a reeleição no cargo. Mesmo com pouca idade, o gestor acredita que as questões da longevidade precisam ser tratadas agora, e, para isso, defende metas e projetos que atendam os longevos de hoje e também os de amanhã.
Em uma entrevista especial para o portal da Longevidade Expo+Fórum o prefeito falou sobre iniciativas e desafios que as cidades brasileiras têm em relação à promoção da longevidade. Confira:
Prefeito, como que um gestor deve enxergar hoje a questão do envelhecimento da população?
Marquinho Pinheiro: É importante que o gestor tenha uma visão específica para essas mudanças, especialmente com enfoque na administração pública nas esferas econômica, bem-estar, saúde, social e cultural que, eminentemente, terão que responder às mudanças que são ocasionadas pelo processo de alongamento de vida da humanidade em geral. As pessoas estão vivendo cada vez mais e tendo menos filhos, ocasionando assim uma longevidade em massa. Isso deve ser observado, estudado com especialistas no tema é tratado com prioridade em todas as gestões.
Na sua opinião, como se dará a revolução prateada no Brasil?
Marquinho Pinheiro: Este é um fenômeno mundial e no Brasil somente agora estamos tendo uma verdadeira atenção em relação ao assunto. A revolução prateada no Brasil passa por uma mudança e, para isso, temos que observar os números de hoje e traçar uma projeção de futuro. Em linhas gerais, o Brasil hodiernamente ainda é o país da jovialidade, e de acordo com IBGE, os números apresentados confirmam que somos uma nação jovem. Isto porque mais da metade do nosso povo têm entre 0 e 34 anos. Mas essa realidade está mudando, já que a população brasileira está vivendo mais tempo. Em breve, seremos um país com um maior número de adultos e longevos.
Neste contexto, é importante ressaltar que em pouco mais de 10 anos, os brasileiros de 50 anos ou mais terão ultrapassado a faixa etária que compõe a maior parte dos trabalhadores de hoje, que são de 25 a 49 anos , ou seja, essa pirâmide em uma década e meia será invertida e teremos de forma gradual impactos pujantes em nossa sociedade.
Como as cidades devem se preparar para isso em termos de infraestrutura, saúde e geração de oportunidades?
Marquinho Pinheiro: As cidades precisam se preparar de forma sólida e nosso enfoque na administração pública é acompanhar esse processo e adiantar essas mudanças. O primeiro ponto a ser trabalhado na infraestrutura é a acessibilidade, temos que facilitar o deslocamento dos longevos. É preciso promover a implantação de leis que obriguem os estabelecimentos comerciais a cumprirem as exigências que facilitem o dia a dia deles da população sênior.
Na Saúde, é importante trabalhar na prevenção de doenças, com escopo na compreensão dos fatores sociais e ambientais que determinam uma longevidade bem-sucedida, buscando relevância na adoção de medidas de promoção de saúde e bem-estar com base na atenção primária. É indispensável fortalecer as Estratégias de Saúde da Família com grupos voltados especificamente aos longevos.
Com relação à geração de oportunidades, o foco do gestor deve ser o investimento nos eventos culturais, que parte do prisma de compartilhar e oportunizar de forma eficaz programas culturais, ou projetos municipais já institucionalizados, que vise oferecer aos longevos, oficinas culturais, que possam aproximar cada vez mais este segmento social a outros bens culturais, favorecendo a sociabilidade e também a economia.
Quais são os principais desafios de uma cidade para ofertar uma longevidade de qualidade às pessoas?
Marquinho Pinheiro: Nós, enquanto gestores públicos ou membros da sociedade de um modo geral, temos que pensar à frente, este é o grande desafio, antecipar problemas, solucionar demandas para melhoria do IDH dos longevos, sabendo que a revolução prateada incontestavelmente é uma realidade, devendo ser enfrentada com planejamento, ideias sólidas e construção de políticas públicas de qualidade, laborando de forma incessante para o bem-estar da população que mais cresce no mundo.
Por onde começar?
Marquinho Pinheiro: O primeiro passo é planejamento, adotando posteriormente ações que passam por acolhimento, humanização e consciência para implementação de atividades coordenadas aos grupos de longevos. Com relação à aplicação de políticas públicas voltadas ao bem-estar desta classe, evidencia-se primordialmente por pilares, tais quais: Assistência Social, Esporte, Saúde e Cultura.
Gostaria de citar alguns projetos do tipo em São Pedro do Turvo?
Marquinho Pinheiro: São Pedro do Turvo, localizado no centro-oeste paulista, conta com cerca de 8 mil habitantes e aposta em ações ligadas à longevidade. Hoje, temos grupos de acolhimento na Secretaria de Assistência Social, inclusive fazendo busca ativa para que os longevos possam participar das ações de interação, jogos e brincadeiras que resgatam suas memórias. Temos um grupo chamado “Caminhar Para Vida”, que se reúne três vezes na semana para caminhar por pontos da cidade. O cinema na Câmara Municipal recebe os longevos para uma sessão especial quinzenalmente.
Além dessas, muitas outras ações estão sendo planejadas para melhorar a coordenação motora, o equilíbrio, a força e a disposição dos longevos. Esses projetos têm como objetivo principal aumentar a independência, a autonomia e a satisfação dessa população.
(Texto Aline Porfírio / Imagens: Divulgação)