Jornalista Caco Barcellos foi um dos destaques do encontro
O Brasil não é grande apenas em extensão territorial. Infelizmente, as desigualdades e diferenças sociais tomam corpo no país de ponta a ponta. Ainda que este seja um tema debatido e trabalhado com força nas últimas décadas, as diferenças de ordem econômica, racial, educacional e geográfica são comuns aos brasileiros de todas as idades, inclusive aos longevos.
“Nosso desafio é entender que vivemos em um Brasil paradoxal e é preciso conhecer os extremos para entendê-lo. Os extremos são os responsáveis por revelar as nossas fragilidades enquanto país”, destaca o jornalista investigativo Caco Barcellos durante apresentação na Longevidade Expo+Fórum 2022. O jornalista foi um dos integrantes de um super painel que abordou temas como etarismo, racismo, necessidades especiais e educação continuada em nossa sociedade.
Caco Barcellos tem mais de 50 anos de carreira no jornalismo e dedicou grande parte de sua vida às pautas investigativas e de cunho social. Durante o painel, ele destacou experiências pessoais e de carreira, uma vez que o repórter tem 72 anos e continua trabalhando. Barcellos falou sobre a necessidade de um olhar mais atencioso do governo em relação à longevidade. “Me preocupa como é cruel a vida de quem mora em áreas longínquas deste Brasil. A sua localização está ligada diretamente à sua longevidade e qualidade de vida. Há lugares extremamente perigosos, onde a expectativa de vida do indivíduo é reduzida”. Caco reforçou também a necessidade de garantia do acesso da população aos serviços que garantam mais saúde e bem-estar para uma longevidade de qualidade.
Presente no painel, o ex-secretário municipal da Pessoa com Deficiência em São Paulo, Cid Torquato, abordou a necessidade de planejamento e inclusão para a população sênior. “Há anos atrás, não esperávamos que viveríamos até os 100 anos e hoje isso é possível. Há estudos que já dizem que a última geração viverá até mais do que um século. Portanto, precisamos pensar como isso se dará, quais são formas e condições para essas pessoas viverem bem, pensando também em acessibilidade”.
O reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, Professor Doutor José Vicente, falou sobre o avanço que o sistema de cotas raciais causou no Brasil e sobre os desafios que temos enquanto sociedade para combater o racismo no país. Longevos negros são estão entre os que mais sofrem com o racismo, etarismo e com a falta de acesso às políticas públicas. “É importante fomentar a discussão de como viver até os 100 anos, mas, é mais importante entender como se dará a estrutura para isso. Como vamos adaptar a infraestrutura urbana, como daremos continuidade ao ensino para essas pessoas, como se dará o subsídio econômico para que se viva bem na longevidade, o acesso à tecnologia, entre muitos outros fatores. É preciso planejar”, enfatiza o reitor.
Educação – Outro tema de destaque no painel foi educação continuada. Juntaram-se aos painelistas anteriores o ex-ministro da Educação, Rossieli Soares, e a professora de Medicina Física e Reabilitação da Universidade de São Paulo (USP), Linamara Rizzo Battistella.
Rossieli Soares dividiu com o público sua experiência pessoal com o poder da educação. “Meu pai tinha muitas dificuldades e ele só terminou os estudos depois de adulto. Quando ele concluiu o ensino médio, vimos nossa vida mudar para melhor. A educação transforma e somos prova disso”. O ex-secretário defendeu o planejamento de uma educação continuada que agregue o público longevo, uma vez que grande parte das pessoas 60+ ainda são arrimo de família. “É preciso capacitar e inserir esse público na educação para que continuem ativos e com oportunidades reais. Tivemos uma experiência muito boa com a Universidade Aberta da Terceira Idade e acredito que isso deva se expandir. Aprendizado contínuo é um componente fundamental para uma longevidade saudável”.
A médica e professora Linamara Rizzo Battistella acrescenta outro fator importante ao tema. De acordo com a profissional, a educação na longevidade é vital para a saúde cerebral. “O cérebro depende de estímulos para se tornar saudável e o aprendizado é a melhor forma de exercitá-lo. Não é verdade que pessoas acima dos 60 anos possuem dificuldade para aprender, pelo contrário, possuem disposição e raciocínio para tal”.
Linamara levantou também a bandeira contra o etarismo e ao descarte de profissionais prateados. “A suprema corte dos Estados Unidos não aposenta funcionários por idade, o que eu acho excelente. No Brasil, a aposentadoria por idade tem caráter discriminatório, parece que a pessoa está impossibilitada de exercer qualquer profissão. Eu acredito e valorizo a experiência sênior, inclusive, acho que chegará o dia de termos cotas para longevos”, destaca.
A quinta edição da Longevidade Expo+Fórum já tem data para acontecer: de 29 de setembro a 1º de outubro de 2023 no Expo Center Norte em São Paulo.
Quer ver a íntegra do painel? Clique aqui e tenha acesso a este e tudo o que aconteceu na quarta edição da Longevidade Expo+Fórum, em 2022.
(Texto: Aline Portfírio /Fotos: Fred Uehara)