Redação e edição
Analu Oliveira – 79+
“Preciso deixar rastros”
Foi o que disse a escritora Nélida Piñon – imortal na Academia Brasileira de Letras onde ocupa a cadeira número 30 – para justificar a doação ao Instituto Cervantes (RJ), de 8000 volumes de sua coleção sobre a Galícia no dia 20 de junho, segunda-feira passada. “Me despedi de todos aqueles livros com um certo sofrimento. Aí, fui percebendo o privilégio que estava tendo”.
Nélida na inauguração da Biblioteca com o embaixador e convidados
O encontro foi de festa para inaugurar a Biblioteca Nélida Piñon e a cerimônia teve a presença ilustre do embaixador da Espanha, Fernando Garcia Casas, da atriz e acadêmica Fernanda Montenegro, do escritor e produtor Haroldo Costa e sua mulher, Mary Costa.
A biblioteca de Nélida foi construída passo a passo durante seus 60 anos de carreira e 85 de vida e todo esse material foi doado ao Instituto. São objetos de arte e obras sobre balé, história da Idade Média, Machado de Assis, literatura clássica, religião, clássicos franceses e ingleses, ópera e biografias, assim como a biblioteca particular herdada da lexicógrafa Elza Tavares.
Muitos dos livros têm dedicatórias de amigos escritores, como Clarice Lispector, Rachel de Queiroz, Carlos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa e Lygia Fagundes Telles, entre os brasileiros, e Toni Morrison, José Saramago, Mario Vargas Llosa, Carlos Fuentes e Gabriel García Márquez, entre os estrangeiros.
Nélida e Clarice Lispector nos tempos de juventude
Ainda criança, Nélida Piñon criou sua biblioteca. Desde histórias escritas a mão em folhas soltas depois costuradas até, mais tarde, obras outros autores: edições do gibi “O Tico-Tico”, almanaques de curiosidades que ganhava no final do ano, livros de Machado de Assis apresentados por seu pai. Foi ele, Lino Piñon, que abriu para a filha uma conta na livraria Freitas Bastos, no Largo da Carioca. Ela tinha 12 anos e toda a semana ia de Vila Isabel até o Centro do Rio para escolher um livro (“às vezes, dois”, confessa).
Nélida denuncia um quadro de etarismo, preconceito contra os idosos na cena literária. Mesmo com sérios problemas de visão, segue em plena atividade e defende companheiros de ofício que, na sua avaliação, vêm sendo marginalizados: “os jovens só leem o que produzem. Não aprendem com os mais velhos. E digo isso na condição de escritora que está produzindo e sendo lida”..
Desde sempre, Nélida conviveu com a literatura e agora compartilha essa vivência com todos. Salve Nélida Piñon !!!
Sobre Nelida Piñon
Nélida Cuíñas Piñón nasceu no Rio de Janeiro dia 3 de maio de 1937, é uma reconhecida escritora, integrante da Academia Brasileira de Letras (ABL) da qual foi a primeira presidente mulher, entre 1996 e 1997. Filha de Lino Piñón Muíños e Olivia Carmen Cuíñas Morgado, de origem galega.
Formada em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), foi editora e membro do conselho editorial de várias revistas no Brasil e exterior. Também ocupou cargos no conselho consultivo de diversas entidades culturais no Rio de Janeiro.
Sua estreia na literatura foi com o romance Guia-mapa de Gabriel Arcanjo, de 1961, com temas como o pecado, o perdão e a relação dos mortais com Deus. No romance A república dos sonhos, baseado em uma família de imigrantes galegos no Brasil, ela faz reflexões sobre a Galícia, a Espanha e o Brasil. Em Livro das Horas, Nélida revive memórias afetivas que emergem a partir de um vertiginoso turbilhão de lembranças e emoções. Nélida é também, académica correspondente da Academia das Ciências de Lisboa e desde outubro de 2014, é membro da Real Academia Galega.
Dois de seus livros, sempre retratos de emoção e sensibilidade
Seus trabalhos foram traduzidos em vários idiomas e lhe valeram prêmios como o mais recente Prêmio Príncipe de Asturias das Letras de 2005, recebido da cidade espanhola de Oviedo. Concorreram a este prêmio escritores de fama mundial, como os norte-americanos Paul Auster e Philip Roth, e o israelense Amos Oz; ao todo, mais de dezesseis países estavam representados no concurso.
Nélida despertou paixões mas nunca se casou
Sem falsa modéstia, Nélida diz que foi uma garota bonita, balançou vários corações, mas nunca se casou. “Sempre quis ser uma entidade autônoma, construí minha carreira sem dever favores a ninguém”, afirma. Mas desconversa sobre mais detalhes de sua vida pessoal.
Fontes
Wikipedia
https://pt.wikipedia.org/wiki/N%C3%A9lida_Pi%C3%B1on
E Biografia
https://www.ebiografia.com/nelida_pinon/
Estadão – Cultura
Anna Ramalho
Isto É
https://istoe.com.br/7137_UMA+PAIXAO+VISCERAL/
O Globo
(Imagens: Divulgação)